ANDREA MICHAEL
WLADIMIR GRAMACHO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Auditoria da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) concluiu que o fundo de pensão da Embrapa -Ceres- perdeu US$ 48,8 milhões com negócios atípicos liderados por corretoras de São Paulo, entre janeiro de 1993 e abril de 1997.
A RMC foi uma das quatro mais atuantes entre as corretoras que se beneficiaram de investimentos da Ceres.
Na ocasião, a RMC tinha como sócio o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, que foi arrecadador de fundos na campanha do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, quando ele se candidatou ao Senado, em 1994.
Na última quinta-feira, a Folha publicou reportagem mostrando que uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou a RMC como beneficiária de "operações fraudulentas" e responsável pela criação de "condições artificiais de demanda, oferta e preço de valores mobiliários", ao negociar ações para a Ceres.
A Secretaria de Previdência Complementar tem como missão zelar pela solvência e equilíbrio atuarial dos fundos de pensão em funcionamento no país. A Ceres tem 12 mil participantes e patrimônio de R$ 940 milhões.
No relatório da Secretaria de Previdência Complementar, concluído em 1997, a atuação do fundo de pensão da Embrapa no mercado de ações é classificado como de "alto risco", porque investiu "em quantidades muito acima da média de mercado e, em sua maioria, em ações de segunda linha e de baixa liquidez".
Segundo o documento, entre janeiro de 1993 e abril de 1997, "a entidade [Ceres] obteve um ganho real de US$ 23,4 milhões", em seus investimentos nas Bolsas de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) e de São Paulo (Bovespa).
Entretanto, informa o texto, "se considerássemos a inexistência das operações realizadas no mercado de opções, o ganho provável seria de US$ 72,2 milhões, visto que foram pagos altos prêmios [às corretoras] e a rentabilidade ficou comprometida".
O chamado "mercado de opções" transformava as corretoras em parceiras no lucro dos investimentos da Ceres, em caso de alta nas ações compradas pelo fundo de pensão.
Segundo a SPC, essa estratégia fez com que "a entidade deixasse de ganhar US$ 48,8 milhões".
Na investigação da CVM, uma comissão de inquérito apurou que a RMC e outras cinco corretoras lucraram R$ 17,3 milhões em operações envolvendo recursos da Ceres, enquanto o fundo de pensão levou apenas R$ 5,2 milhões.
O inquérito da CVM descobriu que a participação da RMC se deu entre 1996 e 1997. Nesse período, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, então sócio da corretora, ocupava o cargo de diretor da área internacional do Banco do Brasil, com o apoio do tucano José Serra.
Formalmente, Ricardo Sérgio esteve afastado da corretora durante sua passagem pelo Banco do Brasil, até 1998. Seu desligamento definitivo ocorreu no ano passado, quando o economista vendeu suas cotas na corretora por R$ 6 milhões.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u32682.shtml
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