terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Empreiteiras recebem R$ 296 mi de Azeredo



Seis construtoras, segundo a PF, fizeram doações clandestinas de R$ 8,2 milhões para a campanha de reeleição do tucano

Polícia diz que dinheiro foi utilizado na quitação de empréstimos contraídos por Valério para a campanha ou custearam gastos eleitorais

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

As seis empreiteiras que, de acordo com a Polícia Federal, fizeram doações clandestinas de R$ 8,2 milhões para a campanha de 1998 à reeleição do então governador mineiro e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) receberam R$ 296 milhões em pagamentos por obras na sua gestão (de 1995 a 1998).
O levantamento foi feito, a pedido da Folha, pela Secretaria de Transportes e Obras Públicas de Minas. Os recursos repassados às empreiteiras somam 13,3% dos gastos em obras de 1996 a 1998 no Estado (a secretaria não forneceu dados de 1995), de R$ 2,2 bilhões.
Em relatório do inquérito que apurou o valerioduto tucano -suposto esquema de financiamento irregular da campanha de Azeredo e aliados em 1998-, a PF aponta que seis construtoras fizeram doações irregulares por meio de depósitos em contas de empresas do publicitário Marcos Valério. São elas: Erkal (repasse de R$ 101 mil), ARG (R$ 3 milhões), Queiroz Galvão (R$ 2,36 milhões), Egesa (R$ 1,8 milhão), Tratex (R$ 903,5 mil) e Servix (R$ 50 mil).
Esse dinheiro, aponta a PF, foi usado para quitar empréstimos contraídos por empresas de Valério para a campanha ou "custearam diretamente despesas eleitorais". Das seis construtoras, a ARG aparece como doadora oficial da campanha, mas com R$ 262 mil.
A PF afirma que Valério usava suas agências para "simular ou superfaturar contratos de publicidade para conferir aparência legal aos créditos originados de doadores privados, em sua maioria empresários com interesses comerciais junto ao Estado de Minas Gerais".
Das seis empreiteiras apontadas pela PF como doadoras ilegais de Azeredo, quatro -Queiroz Galvão, Erkal, ARG e Egesa- são citadas na chamada "lista do Mourão". O documento, assinado pelo tesoureiro da campanha, Cláudio Mourão, relaciona fontes e destinatários do suposto caixa dois.
A secretaria forneceu à reportagem 47 contratos das empreiteiras com o governo, fechados nos últimos 19 anos. Desse total, 19 (40%) foram assinados na gestão de Azeredo, com Egesa (9), ARG (5), Erkal (4) e Queiroz Galvão (1).
O restante dos contratos foi assinado nos governos Newton Cardoso (1987 a 1991, seis contratos), Hélio Garcia (1991 a 1994, dez), Itamar Franco (1999 a 2002, seis) e Aécio Neves (2003 a 2006, seis).
Dos 47 contratos, apenas três foram celebrados sem licitação -dois com a Erkal e um com a Egesa, e na gestão de Azeredo. Somam R$ 9,4 milhões. A justificativa para a dispensa de licitação foi emergência ou calamidade pública.
O contrato PJU 22.117/07, por exemplo, de R$ 757 mil, foi fechado com a Egesa em dezembro de 1997, para construção de ponte sobre o rio das Velhas na MGT-262, no acesso ao distrito de Santo Antônio das Roças Grandes, em Sabará (Grande Belo Horizonte).
O levantamento da secretaria incluiu ainda repasses às seis empreiteiras na gestão Itamar Franco (1999-2002) e no primeiro governo Aécio Neves (2003-2006).
Sob Itamar, as construtoras receberam R$ 214 milhões, 15,5% do total de R$ 1,37 bilhão de gastos em obras públicas.
Os repasses na primeira gestão de Aécio somaram R$ 201 milhões -5,7% do total de R$ 3,49 bilhões gastos em obras públicas.

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