quinta-feira, 20 de março de 2008

Revista Fórum desmascara a 'moral de Arthur Virgílio'


Artigo publicado na edição deste mês da revista Fórum desmascara a "moral" do líder do PSDB no Congresso, Senador Arthur Virgílio. "O senador já confessou que fez caixa 2 em sua campanha, nunca explicou o mau uso de dinheiro público quando era prefeito de Manaus e tem interesses mais do que obscuros na Zona Franca", afirma a matéria, que o Vermelho reproduz abaixo, na íntegra.



Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado

Por Fábio Jammal Makhoul

Quem ouve o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) desfiar o rosário contra o governo Lula fica impressionado com a sua rigidez moral. Durante a crise política ele se mostrou indignado com as denúncias, disse por diversas vezes que não admite o uso de "dinheiro não contabilizado" em campanhas eleitorais e que Lula promoveu um "escandaloso esquema de corrupção no País".

Mas, a bem da verdade, Arthur Virgílio tem um conceito de corrupção que pode alcançar muita gente da oposição: "Difamações e hipocrisias também são uma certa forma de corrupção", escreveu em 29 de julho de 2000, em artigo publicado na Folha de S.Paulo. Na época deputado federal, Arthur Virgílio se posicionava no artigo contrário à instalação de uma CPI para investigar o chamado caso Eduardo Jorge. Considerava que a oposição queria "palanque inconseqüente", pois a Comissão só interessava aos "surfistas de plantão porque o tema é momentoso, rende notícias e, portanto, é bom estimulante para as candidaturas de outubro próximo".

Santo Agostinho

Se Arthur Virgílio considera hoje o caixa 2 - o cerne da crise que assolou o PT - um "escandaloso esquema de corrupção", sua própria conduta não é das mais elogiosas. Hoje a grande imprensa não lembra, mas no dia 19 de novembro de 2000, o Jornal do Brasil estampou uma confissão de Virgílio: "Em 1986, fui obrigado a fazer caixa 2 na campanha para o governo do Amazonas. As empresas que fizeram doação não declararam as doações com medo de perseguição política".

A confissão de Arthur Virgílio foi para o repórter Valdeci Rodrigues. A matéria, cujo título era "ilegalidade freqüente", tratava da denúncia de caixa 2 na campanha de reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Acusações à época diziam que FHC recebeu mais de R$ 10 milhões em doações que não foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral. Para defender o presidente, Virgílio declarou: "Vamos acabar com mocinhos pré-fabricados e bandidos preconcebidos. Neste país, o caixa 1 é improvável. A maioria das campanhas têm caixa 2".

Após a confissão, o repórter sublinhou que o então deputado "ficou tranqüilo porque esse crime eleitoral que cometeu está prescrito".

Fantasmas do passado

Denúncias de mau uso do dinheiro público também não faltaram quando Arthur Virgílio foi prefeito de Manaus (1989-1993). Uma delas ele conseguiu apagar, como mostrou a nota "Sorte de principiante", publicada na coluna Painel da Folha de S.Paulo, de 22 de novembro de 2001:

"O TCU absolveu Arthur Virgílio (Secretaria Geral) da acusação de uso indevido de recursos na Prefeitura de Manaus. O processo, que corria havia dez anos, foi definido na semana em que Virgílio assumiu o ministério".

Mas nem todas as digitais foram apagadas. Três anos depois - fora do governo -, nova acusação de uso indevido de dinheiro por parte do então prefeito de Manaus ressuscitava para puxar o pé de Virgílio. Em dezembro de 2004, a Corregedoria-Geral da União (CGU) lhe cobrou a restituição de R$ 154,7 mil aos cofres públicos (valores de novembro de 2003), por causa da falta de comprovação da aplicação de recursos transferidos pelo extinto Ministério do Interior à Prefeitura de Manaus em 1989.

O processo de cobrança era uma Tomada de Contas Especial. Segundo o Departamento de Liquidação do Ministério do Planejamento, a aplicação de uma parte dos recursos transferidos pela União para a perfuração de poços artesianos não havia sido comprovada pela Prefeitura de Manaus (165 mil cruzados novos, pela moeda da época).

Mas se você pensa que Virgílio foi tão crítico consigo quanto é com seus opositores, enganou-se. Para ele, a acusação - obra do "pérfido" Jose Dirceu - "é uma homenagem que me fizeram": "Já fui secretário-geral da Presidência, com poder de decidir sobre compras da Petrobras, e só acharam essa bobagem".

Sem conseguir apresentar as documentações para comprovar que o dinheiro fora usado nas obras destinadas, Arthur Virgílio se apoiou na aprovação das contas da sua gestão pelo "Tribunal de Contas do Amazonas (argumento pisado e repisado pelo ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf para atestar sua idoneidade). E conseguiu ver o processo arquivado.

Zona Franca

Não pense o leitor que a língua de Arthur Virgílio só é ferina quando se trata de seus adversários. Se os interesses do senador forem contrariados, nem seus correligionários escapam. Que o diga o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 1997, FHC decidiu estadualizar o poderoso porto de Manaus e demitir o responsável pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Mauro Ricardo Machado Costa, que tinha o apoio do então deputado Virgílio.

Na prática, FHC retirava o poder das mãos do ninho tucano do Amazonas e entregava para o pior adversário político de Arthur Virgílio: o governador Amazonino Mendes (PFL-AM).

FHC se meteu em briga antiga. Desde o fim da década de 1970, políticos locais se especializaram em exercer poder de influência sobre a Suframa, órgão responsável pelo distrito industrial da capital amazonense. Mas só um ano antes da estadualização, em 1996, o chamado uso político da Suframa foi documentado pela primeira vez, quando o Ministério do Planejamento resolveu intervir na administração do órgão e realizar auditorias sobre suas práticas. Descobriu-se que contratos eram superfaturados e que o dinheiro destinado a investimentos (cerca de R$ 30 milhões anuais) era usado para fins tão diversos como pagar passagens de primeira classe para músicos que se apresentavam em Manaus.

Um ano depois, Amazonino Mendes conseguiu convencer FHC a lhe entregar o porto e a Suframa, alegando que os políticos locais ligados ao governo federal estavam tirando proveito da Zona Franca de Manaus. O principal acusado era o então deputado e secretário-geral de FHC, Arthur Virgílio, que devolvia as acusações contra Amazonino.

Mas Arthur Virgílio perdeu a batalha e FHC entregou o controle da Suframa, com seus R$ 13 bilhões de faturamento anuais, a Amazonino. Insatisfeito, o líder tucano mandou bilhete malcriado para o presidente, rascunhou uma carta pior ainda e atacou Fernando Henrique na imprensa, chamando-o de fraco e injusto.

Quer mais hipocrisias?

O senador foi um dos maiores críticos da então ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, quando ela foi chamada à Comissão de Ética Pública do Poder Executivo para explicar sua participação em um encontro evangélico em Buenos Aires com recursos públicos.

Apesar de ter sido um dos mais ardorosos críticos de Benedita, Virgílio já esteve na mesma situação. Ele e outros cinco ministros e um presidente de estatal do governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo escreveu à época a jornalista Dora Kramer, em sua coluna no Jornal do Brasil, Arthur Virgílio foi dos que pior reagiu à ação da Comissão de Ética quando, em fevereiro de 2002, recebeu um pedido de explicações. Virgílio era titular da Secretaria-Geral da Presidência da República e, com seus colegas, freqüentou naquele carnaval camarotes de empresas privadas no sambódromo carioca. "Arthur Virgílio considerou um acidente a admoestação da comissão e tentou dizer que havia pago R$ 2.500 pelo convite. Foi contestado, já que as camisetas da empresa em questão não estavam à venda, pois eram, as próprias, o convite."

Assim age Arthur Virgílio. Condena nos outros os pecados que ele mesmo carrega. E com a língua afiada, acusa primeiro e investiga depois. Mas, como ele mesmo disse em outro artigo na Folha de S.Paulo, de novo para se posicionar contra a abertura de uma CPI, dessa vez sobre o caso do grampo no BNDES, em 28 de novembro de 1998: "Quem leu As bruxas de Salem sabe que a mentira e a caça às bruxas podem servir para imolar inocentes".

Texto reproduzido da Revista Fórum, nº 37, abril 2006
O senador foi um dos maiores críticos da então ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, quando ela foi chamada à Comissão de Ética Pública do Poder Executivo para explicar sua participação em um encontro evangélico em Buenos Aires com recursos públicos.
Não pense o leitor que a língua de Arthur Virgílio só é ferina quando se trata de seus adversários. Se os interesses do senador forem contrariados, nem seus correligionários escapam. Que o diga o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Se Arthur Virgílio considera hoje o caixa 2 - o cerne da crise que assolou o PT - um "escandaloso esquema de corrupção", sua própria conduta não é das mais elogiosas. Hoje a grande imprensa não lembra, mas no dia 19 de novembro de 2000, o estampou uma confissão de Virgílio: "Em 1986, fui obrigado a fazer caixa 2 na campanha para o governo do Amazonas. As empresas que fizeram doação não declararam as doações com medo de perseguição política".


Um comentário:

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